Em Manu-Mera, no pico da montanha timorense, há um povo glorioso que resiste à tentação fácil de migrar para a cidade. A sua escola deverá ser a sua janela para o mundo. Vamos reconstruí-la...
03 de Maio de 2014

 

Irmão Luís de Sousa Coutinho

 

Em 1972, chegou pela primeira vez a Timor-Leste, por sua vontade. Visando o local mais recôndito do antigo império, buscava uma experiência de vida de contemplação, vocacionada para uma espiritualidade e uma reserva que não encontrava em Portugal, assumindo uma ruptura com os hábitos, confortos e as vivências mundanas da metrópole.

 

Pisava solo timorense aos 29 anos de idade, tendo então logo optado por se refugiar dos meios políticos e elitistas da sociedade portuguesa em Díli, buscando nas populações autóctones e nas suas vivências, o seu próprio habitat. Uma ambição desencorajada por quem o reconhecia, querendo-o inserido na sociedade colonial de então, ao contrário da sua ambição de reserva e anonimato.

 

Chegado a um limite de pressão e perante a ameaça de deportação para Portugal, face às opções de vida em que persistia, optou por abandonar Díli, em busca de um isolamento mais efectivo, que o afastasse por completo dos olhares longínquos mas atentos da metrópole.

 

Foi então que, por indicação do Bispo de Díli, Senhor D. Jose Joaquim Ribeiro, partia para as montanhas de Manu-Mera, onde se encontrava uma aldeia liderada por um chefe recém-convertido ao Cristianismo: António Ximenes Verdial.

 

Aí acabaria por encontrar, num dos locais mais isolados, inóspitos e de difícil acesso, nas serranias do distrito timorense de Ainaro, perto de Maubisse, a vivência de reserva que procurava, em busca da sua vocação.

 

Vivendo muito próximo da população local, partilhando de seus parcos recursos, modo de vida simples, longe dos confortos e distrações da civilização moderna, pôde aí encontrar o extremo oposto das suas origens em Portugal, desafiando a sua vocação e a sua fé.

 

Aí viveu por dois anos e meio, saindo de Timor em 1974, por questões de segurança, aquando do início da guerra-civil, e, uma vez mais, a conselho do Bispo de Díli.

 

Contudo, antes de regressar a Portugal, continuaria o processo de aprofundamento da sua fé. Passou então por Israel, a fim de contactar com os irmãos de Jesus do Padre Foucault. Aí, viria a decidir ingressar na congregação que o inspirou, em Setembro de 1975. Desde então, passaria por Espanha (Madrid, Saragoça, Málaga), França (Lion e Toulouse), Argélia, entre outras nações, onde, cumprindo o modo de vida da sua congregação, veio a exercer as mais diversas profissões. Foi operário e artesão, indo ao encontro da vivência profissional de Jesus Cristo, como caminho para uma aproximação à vivência espiritual e contemplativa do Messias. O modo de vida do Filho de Deus, como inspiração na vida diária. Uma vida de contemplação, entre os homens, vivendo a sua vida profissional e espiritual através do trabalho manual, como operário, à semelhança de Jesus. Carpinteiro, pintor na construção civil, ourives, pedreiro, serrelharia civil, agricultura, artesanato para venda de rua, etc. Ao todo, cerca de 25 profissões diferentes que preencheram os seus dias ao longo dos últimos 40 anos.

 

Autorizado pela sua congregação a regressar ao que considera como sendo as suas origens, volta para estar com seus amigos e irmãos, para reatar laços firmados 40 anos antes. Acredita ter uma missão a concluir, que passa por assegurar a reabilitação do edifício da Escola Primária de Manu-Mera, instrumento imprescindível para o desenvolvimento saudável daquela comunidade isolada, onde ainda nada chega.

 

"Mau-Bere-Kohe", foi como o seu povo o acolheu nos anos 70, e como é ainda carinhosamente apelidado, significando algo como, "o timorense viajante".

 

 

 

 

 

 

publicado por abracarmanumera às 06:41
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MANUMERA SER UMA TURISTA EM TIMOR.
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REFERENDICIMO para o irmao LUIS. eu agradeco pelo ...
Manu-Mera muito frio tambem portugal.Icu